Triste Negligência

Volta e meia estou na estrada, a bordo do meu velho ômega/95. A rodovia onde mais preciso andar é a 323 que anda bastante abandonada. Pode que seja intencional. Querem justificar a necessidade de pedagiá-la. Coisa de nossos deputados e do governo estadual que temos, tão interessados em defender o povo. Para decepção de quem vive do trabalho e tira o sustento dos produtos que transporta, vão botar pedágio de cabo a rabo. De Deus, recebi mais mereço e até consigo pagar pedágios, mas não me canso de xingar essa maldição por princípio. Há tantos que não agüentam tanta espoliação. Pagamos impostos que os nossos representantes maltratam e, depois recorrem ao roubo que é o pedágio. Pagar duas vezes, só burguês inconseqüente e despreparado aprova. É coisa de sujeito que não pensa nos que precisam da estrada para sobreviver. Volto ao meu velho ômega que nunca me deixou na estrada, apesar dos buracos, das panelas e da falta de sinalização. Ele é um baita companheiro que reluto em trocar. Ao menos por enquanto. E não adianta me azucrinarem…
Não quis falar do velho companheiro. Foi ele que se esgueirou para dentro da conversa. Quis mesmo chamar a atenção para a péssima sinalização das nossas rodovias, principalmente da Pr 323. Vejo o noticiário falar da imprudência dos motoristas nas estradas. Mas, não ouço falar da negligência dos governantes que não sinalizam e não arrumam as estradas. Sei que tem imprudência demais. Agora, não se enganem que nem todos os acidentes são por culpa do motorista. O ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” deve ter experiência. Andar à noite e enfrentar uma luz alta de encontro, nessas rodovias apagadas, é cosa por demais. A gente procura a faixa de sinalização da pista e não encontra. Aí é um samba de crioulo doido e a gente fica como cusco que cai da mudança. Tem que adivinhar onde está. Não dá para saber se na pista de lá ou na pista de cá, ou se no acostamento…
Lembro de um amigo especial aqui de Umuarama que foi colhido em circunstâncias assim. Tivesse faixa sinalizando a rodovia, não teria perdido a vida. O asfalto estava um breu e sem nada de sinalização. E, para completar o drama, ainda chovia o que Deus mandava… Deu no que deu. O amigo que fora fazer um favor, acabou colhido na própria pista, por quem vinha do lado contrário. É o que indicaram os elementos colhidos em averiguação que acompanhei em Goioerê. Talvez um dia, as mazelas das estradas públicas dêem em responsabilização de quem não as cuida como deve. Há, para isso, uma teoria penal que se chama “Domínio do fato”. Enquadramento legal não é difícil de encontrar. Há crimes dolosos e crimes culposos. Nestes enquadra-se a negligência.
Bem, por enquanto é preciso falar, apontar e reclamar. Isso vale para todos os níveis da administração pública. E para todos os poderes. No caso da PR 323, seria muito bom prestigiar o DER que sempre prestou bons serviços. Ele pode ter uma dessas máquinas que fazem riscos em branco e em amarelo. Faixas demarcando as pistas. Mas, ninguém faz nada. Triste negligência. 
(Eliseu Auth é Promtor de Justiça inativo, atualmente Advogado militante).

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