Outro dia estava ouvindo um debate sobre o tema “mobilidade urbana” numa conceituada emissora de rádio, uma entrevista com vários especialistas do setor, dentre os quais um representante de uma ONG que defende ciclovias; um catedrático, mestre doutor de uma conceituada universidade; um especialista em corredores de ônibus e sistemas inteligentes de controle de semáforos; e também um especialista do metrô… havia mais alguém defendendo o pedágio urbano… Enfim, especialistas para todos os gostos. A certa altura do debate fiquei extremamente irritado, pois não conseguia ver coerência em nenhuma das propostas destes especialistas, que defendiam o assunto baseados em suas respectivas matérias, ou seja, propondo soluções para os efeitos pontuais e não levantando a questão dos problemas em sua raiz, apesar de algumas propostas, isoladamente, fazerem algum sentido (mesmo que apenas paliativamente). Não vou aqui ficar repetindo as ideias desses especialistas, as mesmas propostas: 1. Corredores de ônibus, 2. Mais Metrô, 3. Mais rodízio, 4. Pedágio, 5. Ciclovias etc. Será que ninguém percebe que o sistema de transportes será SEMPRE insuficiente, visto que a infraestrutura está sempre crescendo numa escala menor que a demanda? O problema, portanto, não é a infraestrutura por si só, mas sim o CRESCIMENTO da DEMANDA por transportes. Por que os especialistas não enxergam esta realidade? Percebam que não precisei recorrer a nenhum estudo sofisticado, não precisei de estatísticas, não realizei medições ou coisa alguma… é fato incontestável. Não que não precisemos melhorar a infraestrutura, mas a ênfase dever estar na CONTENÇÃO da DEMANDA. A demanda não pode crescer geometricamente como vem ocorrendo nas últimas décadas. E como fazemos isso…? Para endereçar o problema da mobilidade urbana pela raiz, precisamos, grosso modo, apenas “reduzir a necessidade de transporte”. Podemos partir de um mapeamento de como as pessoas circulam pela cidade… Sabemos de antemão que muitas pessoas cruzam a cidade de norte a sul, de leste a oeste, para irem ao trabalho, às escolas, às universidades etc.; são muitas e longas horas em diversos meios de transportes, resultado da falta de coordenação e incentivo público. Continuando… De início precisamos medir o quanto as pessoas estão distantes de seu destino diário. Podemos, a exemplo do que se exige dos empregadores com relação às informações dos trabalhadores (GFIP), incluir ou processar os dados relativos aos deslocamentos diários e mapear o trajeto destes trabalhadores, mensurando assim a dramática situação de logística, idem para as escolas e universidades com relação aos alunos e os respectivos deslocamentos de idas e vindas nos horários em que isso ocorre etc. Posto isso, através de incentivos, promover-se-ia uma logística mais racional. – Incentivos para empresas contratarem funcionários que residem próximos do trabalho – Incentivos para o trabalhador residir próximo ao trabalho – Quotas para funcionários residentes próximos ao trabalho – Idem para pais de alunos e escolas – Idem para universidades e seus alunos – Incentivo para Empresas se instalarem em áreas onde houvesse infraestrutura completa Bairros completos, incentivos para adaptação dos bairros com infraestrutura e oportunidade de trabalho local – Revisão do plano diretor da cidade visando RESTRINGIR novas edificações sem a contrapartida da infraestrutura (não só viária, mas também escolas, saneamento, hospitais, shopping center, etc) – Reverter o adensamento da cidade, reurbanizando bairros centrais, demolindo edificações degradadas, criando áreas verdes, lazer etc. São providências estruturais que demandam esforço político e sacrifícios de longo prazo. Interesses particulares irão sem dúvida obstaculizar as iniciativas em torno de ações dessa natureza, mas, se nada for feito, a cidade entrará em colapso muito brevemente. Além disso, é fato que o Brasil é campeão em impostos e isto talvez fosse uma forma de reduzir IMPOSTOS de forma orquestrada, através dos incentivos, para a pessoa física, para o empresário, para o trabalhador, escolas, supermercados etc. Mesmo para as grandes incorporadoras e construtoras, que hoje se beneficiam com o caos urbano, surgiriam novas oportunidades através dos incentivos a novos empreendimentos, descentralizados, nos bairros. Basta harmonizar os interesses e tudo se resolve, pela raiz. Que a solução seja sustentável e perene! Fonte:Revista Incorporativa/ Helder Prado Sampaio