Para juiz, participação das concessionárias nas negociações entre Estado e União representa risco aos interesses do cidadão; governo defende procedimento
O governo estadual solicitou, no ano passado, à União, autorização para renovar a delegação das estradas federais, que representam mais da metade dos 2,5 mil quilômetros do trecho com pedágio no Paraná. Ainda não houve uma resposta oficial, porém, o secretário de Gestão de Programas de Transportes do Ministério dos Transportes, Luciano de Souza Castro, disse à FOLHA antes da sua primeira reunião com o governador Beto Richa (PSDB), no mês de agosto, que havia recebido um pedido para renovação, também, das concessões do pedágio. “Vieram e solicitaram a renovação da delegação e também dos contratos das concessionárias”, informou à época.
De acordo com o magistrado, a participação direta das empresas nas negociações entre Estado e União sobre os convênios de delegação representa risco aos interesses do cidadão. “A prorrogação do convênio há de ter em mira exclusivamente o interesse público entre os entes políticos envolvidos, numa racionalidade comunicativa livre da interferência do poder econômico das empresas privadas”, escreveu Cachichi. A decisão foi proferida depois dos primeiras discussões sobre o tema, em 2015, em ação civil pública apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF), em Jacarezinho (Norte Pioneiro).
União e DER apresentaram agravo de instrumento contra a liminar no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), mas o recurso foi negado pelo desembargador federal Cândido Alfredo S. Leal Jr. Segundo ele, não há risco iminente de prejuízo às concessionárias e nem à sociedade que possa justificar a suspensão imediata da liminar. “Os réus não estão proibidos de adotar toda ou qualquer medida para verificar ou estudar a viabilidade da prorrogação dos contratos (a liminar foi clara quanto a isso, limitando-se a determinar abstenção quanto a qualquer ato de renovação dos convênios ou acordo de prorrogação de prazo)”, anotou o desembargador. Agora, o caso deverá ser analisado pelo colegiado do tribunal.
OUTRO LADO
O secretário Chefe da Casa Civil do Paraná, Eduardo Sciarra, confirmou o interesse nas renovações dos convênios de delegação e dos contratos de concessão. Segundo ele, o procedimento pode ser feito sem licitação. “Não é ilegal porque o contrato original prevê renovação (com as concessionárias).” Sciarra afirmou que o governo deve realizar audiências públicas se houver o aval do Ministério dos Transportes para decidir sobre a permanência das atuais empresas de pedágio. “Formalmente não tem nenhuma negociação em curso. É evidente que o governo tem interesse na delegação, necessária para renovar agora ou daqui a cinco, seis anos. Quem está fazendo estudo para eventuais prorrogações é o governo federal e se ele se convencer que vai ter desconto grande na tarifa e incremento de obras, isso pode avançar.” Não estão descartadas a renovação direta de alguns contratos e a abertura de licitações em outras regiões.
O DER, no entanto, informou por meio da assessoria de imprensa que tem cumprido a decisão judicial e que não está pleiteando a prorrogação de contratos de pedágio. Segundo o órgão, o pedido feito ao governo federal foi motivado por entidades do setor produtivo. “O governo do Paraná tem feito estudos para avaliar o cenário em caso de prorrogação da delegação de concessão, que permite ao Paraná definir o que fazer com os contratos de pedágio. Esta discussão sobre a delegação foi motivada por pedidos de federações e associações do setor produtivo (como Fecomércio, Fetranspar e Faep)”, diz o DER, em nota.
A reportagem procurou também o governo federal para repercutir o tema, mas não houve retorno.
Reportagem Local