Manifestação contra pedágio, um direito
Mas ABCR usa termos ditatoriais e diz que isto é manobra extremamente grave
A tentativa da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR) de impedir movimentos populares contra o pedágio tem ranço ditatorial e impedidor do direito à livre manifestação. À moda dos tempos da ditadura militar, quando agentes secretos buscavam nomes e faziam delações, as concessionárias do pedágio no Paraná estão diligenciando antecipadamente para saber quem são as pessoas que compõem o denominado Movimento dos Usuários de Rodovias do Brasil. O que a associação visa é barrar na Justiça o protesto programado e, por isso, já está ingressando com os competentes pedidos de interdito proibitório. A medida está sendo tomada face a uma reunião promovida terça-feira, em Curitiba, para organizar a manifestação nas principais praças do pedágio. No comando daquela reunião, que não tem nomes ocultos, estava o ex-deputado estadual Acir Mezzadri, líder do movimento e que, segundo declara, tem o apoio de 200 entidades da sociedade civil, inclusive de fora do Estado. O plano da mobilização é público, não se justificando a publicação de um anúncio cifrado da ABCR alertando sobre tal reunião, que não era secreta nem visava desestabilizar as instituições e nem coisa alguma, mas apenas exercer a livre prerrogativa de protestar contra a cobrança abusiva do pedágio que tem amparo em contratos assinados pelo Governo, por via do ex-governador Jaime Lerner, mas não deixa de ser uma profunda sangria nos usuários de rodovias. O presidente regional da Associação das Concessionárias, João Chiminazzo, prefere qualificar esse movimento de ”manobra extremamente grave”, e dá tom idêntico a ações anteriores como a CPI dos Pedágios, o Xô Pedágio e inclusive as auditorias do Departamento de Estradas de Rodagem, como se a este órgão não incumbisse tal missão e como se aquelas empresas fossem intocáveis. Ele qualifica de ”movimento conspiratório” o que é um exercício democrático e de liberdade dos cidadãos. Soa ridículo declarar que a reunião daquele movimento foi registrada (pela associação) em cartório, para isto ser utilizado ”como prova de que essa orquestração com fins políticos já vem sendo tramada”. Primeiro, todo movimento popular é político, mesmo que não tenha vínculo partidário; segundo, não se trata de uma trama, mas de uma natural reação da sociedade organizada. Por todas as formas, mesmo que o deputado Acir Mezzadri pertença ao PMDB (o partido do governador) e a ABCR supõe que haja participação governamental por trás da anunciada manifestação, o que irá ocorrer será uma ação popular de protesto, e isto tipifica um direito dos cidadãos.