PARTIDARISMO E CINISMO

Partidarismo e cinismo

O surpreendente sincronizado recuo de alguns deputados, no episódio da instalação das CPIs do Pedágio e do Valerioduto, que resultou de curvilíneas manobras de ante-câmara, infama, denigre e apisoa a Assembléia Legislativa deste Estado. Rui Barbosa classificou tais barganhas como politicagem, politiquice ou politicalha, mas atrevo-me a batizá-las de politicorréia e por razões óbvias.
Houve manifesta cumplicidade em detrimento da retilínea conduta que deveriam manter em prol do interesse público. E são justamente esses “entes morais”, chamados partidos, que buscam se fortalecer através do escrutínio por LISTAS. Ora, se aprovadas estas, para elegermos um homem honesto teremos de levar, de cambulhada, NOVE candidatos que não valem nada, a exemplo dos CDs que adquirimos para depois ouvirmos uma só música. Ademais, partido pressupõe “parte”, cuja, busca hipertrofiar-se para atingir o status de PARTIDO ÚNICO, invariavelmente comprometido com o poder estatal. Resulta, que a democracia queda-se negada na sua própria essência, pois baseada na pluralidade de partidos.
A jornalista italiana Oriana Faillace foi quem melhor os definiu: “São uma máfia, uma camarilha, na melhor hipótese: uma seita”… Talvez porque esta costuma nortear-se por alguns princípios.
Singular o fato dos partidistas adotarem a estrutura hierárquica da caserna, mas sem o freio de um regulamento disciplinar. São, consabidamente, organizações em que o cabo obedece ao sargento, este ao tenente, até chegarmos a um general-paisano. Precisamos citar os nomes dos que há décadas infestam a política nacional? A submissão de alguns chamados “homens de partido” é a mais incisiva de suas “virtudes”. Perguntados se fumam, não se coram em responder: “Não! Mas posso fumar caso o senhor queira, senador!” Confundem fidelidade com cumplicidade; assumem uma posição anti-anatômica e só falta andarem de quatro-pés. Claro que há Chefes que não exigem submissão incondicional dos “companheiros”, e que outros o fazem em nome de um PROGRAMA do qual ninguém toma conhecimento. A maioria “toca de ouvido”. Mas se os lêssemos o que saberíamos? Nada! Eis que, marotamente, omitem tudo aquilo que não se presta à repercussão. Quanto mais vago o texto, melhor.
No caso das CPIs abortadas, não foi só a palavra empenhada que deixaram de cumprir, mas um pacto assumido por escrito. E já acusam novo arrependimento, vale dizer: dizem, desdizem e dizem de novo. Uma vergonha!
Devemos à Imprensa o revelar-nos os nomes dos 17 deputados que traíram a vontade popular – entre estes, 13 do PT, que não se coraram em dar meia-volta-volver ao próprio pensamento. Agiram confiando na desmemória dos eleitores.
Urge agora não só acicatá-los como abster-se de eleger representantes que, neste caso, acabaram por representar mal os seus representados.

Paulo F. M. Pacheco – Professor Universitário

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