LUCRO

As contas do pedágio e da jogatina
Prejuízo com invasões revela segredo do lucro, e nova loteria tirará mais dinheiro do povo
Dois fatos publicados ontem neste Jornal devem passar despercebidos pelo cidadão menos atento, embora a sua relevância: um, o volume do denominado prejuízo das concessionárias do pedágio com as ocupações (quando as cancelas são abertas e os veículos passam sem pagar); e outro, a proposta – oriunda do Governo e que tramita no Senado – criando mais uma loteria, para ajudar os clubes de futebol a pagarem as dívidas a várias instituições governamentais. Com relação ao pedágio, percebe-se quanto é arrecadado pelo rendoso negócio, justamente quando é apresentada a conta daqueles ditos prejuízos. Do qual as concessionárias desejam ser ressarcidas. Os números da arrecadação nunca são divulgados, mas quando ocorrem episódios como os protestos e a tomada das praças, logo surge a polpuda listagem do prejuízo, e aí o segredo da receita se revela. Ademais, basta imaginar a parcela dos mais de 2,5 milhões de véiculos existentes no Paraná que passa diariamente pelas barreiras do pedágio, em processo contínuo. Ao que as concessionárias dão o nome de prejuízo deve-se entender como não-arrecadação, porque prejuízo é o saldo negativo entre despesa e receita, o que não é o caso do pedágio. Certo que as empresas beneficiadas pelo Governo Lerner estão estribadas em contratos (sempre discutidos quanto à sua constitucionalidade e quanto ao fiel cumprimento de todos os seus itens), mas observa-se de parte delas uma pantagruélica sanha arrecadadora. Quando uma invasão ocorre (e foram poucas), as concessionárias logo brandem a conta do prejuízo e buscam as vias da Justiça. Quanto à proposta da loteria do futebol inadimplente (a Timemania), esta soa tão vergonhosa como foram os recentes escândalos da corrupção. Veja-se que os credores dos clubes – Receita Federal, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Previdência Social e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – querem receber pela via de mais uma sangria sobre a população, que é a nova modalidade de jogatina. O apostador, sequioso por ganhar o grande prêmio, mal percebe que esta é uma forma de imposto. Como o são todas as loterias. Por outro lado, há que atentar para a velha história de falência dos clubes futebolísticos no Brasil. Se o futebol é um negócio milionário em sua amplitude global – o que é flagrantemente demonstrado pelo item marcante do alto preço pago na compra de jogadores de mais destaque (uma similaridade moderna do comércio de escravos) – parece um saco sem fundo quanto à sua gestão empresarial. A Timemania, que com certeza virá, significará mais dinheiro tirado das pessoas, que se são livres para apostar ou não, na verdade são vítimas da tentação, se já não bastassem os acenos diários de riqueza com mega, quina, sena, lotomania, lotofácil, loterias, raspadinhas e outros mais. Sem esquecer as tele-senas do Baú e o folclórico jogo-do-bicho, uma tolerada contravenção. As duas últimas modalidades, da iniciativa privada; as demais, do Governo, que se converte no grande bancador de jogo e faz do Brasil um enorme cassino.

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