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Tumulto impede conclusão de audiência sobre pedágio
Nájia Furlan [24/02/2006]
Foto: Ciciro Back/O Estado
Faixas e gritos deram um clima de guerra à audiência da ANTT em Curitiba. Diretores da agência saíram pelos fundos.
Um tumulto generalizado impediu ontem que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) concluisse em Curitiba a audiência pública sobre a segunda etapa de concessões de rodovias federais. Pela manhã, no Centro Integrado dos Empresários e Trabalhadores das Indústrias do Paraná (Cietep), as explicações sobre as licitações do mais de 2,6 quilômetros foram feitas sem transtornos. Mas à tarde, passados minutos do início da audiência, ela teve de ser interrompida porque uma discussão áspera entre mesários e manifestantes evoluiu para agressões verbais e físicas, até que os representantes da ANTT saíram rapidamente pelos fundos do auditório.
No entanto, o clima tenso já pairava na entrada do auditório com faixas de manifestação de repúdio aos novos pedágios, seguradas por representantes de movimentos sociais. Ao pé da mesa, cartazes também traziam frases ríspidas. Ainda no início, enquanto o presidente da mesa, o ouvidor da ANTT Nilo Moriconi Garcia, explicava como seria o segundo turno da audiência, ele foi interrompido por perguntas irônicas. A primeira interrupção foi aceita, mas as demais fizeram com que Garcia não permitisse novas perguntas, o que deixou os manifestantes ainda mais alterados.
O último que tentou interromper e acabou se exaltando, levando ao encerramento da audiência, foi Acir Mezzadri, coordenador do Fórum Popular Contra o Pedágio no Paraná. Ele queria falar, mas não foi atendido. E, assim, indignado, começou a berrar. “O motivo foi gravíssimo. Fomos enganados de que somente à tarde haveria audiência pública. Não houve um convite amplo à sociedade, quando deveria haver a maior divulgação possível. O que aconteceu foi que a ANTT fez uma audiência pública com primeira e segunda classes, pois os representantes das concessionárias tinham cadeiras reservadas na primeira fila”, exaltou-se Mezzadri.
Na primeira fila, onde estavam os representantes de concessionárias, também se encontrava João Chiminazzo, diretor regional da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Chiminazzo foi empurrado por Mezzadri, também ficando alterado e deixando o local sem querer comentar o episódio. Em nota divulgada pela assessoria de imprensa da ABCR, Chiminazzo lamenta o que aconteceu e deu a sua versão. Ele disse que estava no evento na condição de ouvinte. “Houve um movimento político para tumultuar a audiência. Com a suspensão, vejo prejuízo ao Paraná, que ficou sem a oportunidade de participação ativa nesse processo. Foi um gol contra desse pretenso movimento. Além disso, é uma vergonha. Em vez de debate o que se viu foi uma praça de guerra”, afirmou o diretor da ABCR no Paraná.
Além de reclamarem da instalação de novos pedágios no Estado, os manifestantes questionaram o fato de, em um primeiro edital divulgado no início do mês, a ANTT ter limitado as audiências públicas apenas a Brasília e São Paulo, e somente em um segundo edital, divulgado na última semana, ter decidido, enfim, estender às demais capitais: Florianópolis, Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro.
A solicitação para que a audiência fosse realizada no Paraná partiu do Ministério Público Federal (MPF), pelo procurador Elton Venturi. “É um projeto tão grande e importante que até causa estranhamento a não-realização de uma audiência aqui no Estado, onde está o maior número de trechos a serem licitados”, disse o procurador que não tem a menor idéia do que vai acontecer agora.