Revela-se também deficiência das rodovias

População paga altos impostos e pedágio, mas sistema rodoviário é cheio de falhas

O desgaste do sistema aeroviário brasileiro e os dois grandes acidentes recentes com aviões, vitimando 340 pessoas, vieram evidenciar outro setor deficiente: o das grandes rodovias e estradas secundárias. A última tragédia amedrontou as pessoas que passaram a utilizar mais o veículo terrestre, e assim o fluxo aumentou e os acidentes também. As últimas semanas foram um teste mais intensificado da capacidade das estradas, porque os pontos frágeis foram ressaltados e estão evidenciando uma realidade que todos conheciam: a precária condição também do sistema rodoviário. Há muito tempo não se constrói estradas novas de grande extensão e também não se duplica as atuais. O advento do pedágio não mudou muita coisa. Nada que não pudesse ser feito pelos governos com o dinheiro arrecadado especificamente para esse fim. Se o aumento das mortes nas rodovias no mês de julho se deve também à imprudência dos motoristas, as estradas malconservadas e sobrecarregadas propiciam mais acidentes. Tudo por conta do descaso governamental, porque há suficiência de recursos para manter bem conservada a malha rodoviária, mas parte das verbas é destinada a outros fins, entre eles a exagerada gastança para sustentar a máquina administrativa viciada, a cobertura a barganhas do tipo mensalão, superfaturamentos em obras e serviços, e assim por diante. Se a irresponsabilidade ao volante é um grande fator de acidentes, em boas estradas o risco é infinitamente menor. O exemplo das superestradas nos países adiantados demonstra que, mesmo com grande fluxo, o ritmo da velocidade é harmônico – regulado inclusive pelos pilotos automáticos de aceleração, porque as boas faixas asfálticas os permitem – e há poucos desastres. Boas estradas, tanto as federais quanto as estaduais, são garantias de mais segurança. O Governo, para desobrigar-se de uma tarefa que é dele, transferiu para os usuários de veículos – e por extensão para o povo em geral – o custeio da conservação, por via da estratégia dos pedágios, que caracterizam bitributação. Estradas bem sinalizadas impressionam os motoristas brasileiros que não conheceram rodovias e serviços melhores, mas eles sabem o quanto isto lhe custa. É muito pouco para o quanto deixam nas praças do pedágio. Agora, em face do inferno astral vivido pela aviação civil, as estradas ficaram sobrecarregadas, e isto é uma amostra de deficiência – que já era grave antes do pedágio e também não se resolveu com ele. Atente-se para o quanto as concessionárias arrecadam e para quanto os governos juntam em impostos para construir e manter estradas, e para o pouco que tem sido feito em conservação e obras novas. Mais não será preciso dizer.
Folha de Londrina 03/08/07 OPINIÃO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *