As concessões de pedágio podem se transformar no pior negócio que o governo do Estado realizou nas últimas décadas, com prejuízos bilionários tanto para os usuários das rodovias quanto para a população como um todo, já que governo não produz dinheiro, gastando o que é arrecadado com impostos. Em 1998, de forma apressada e mal negociada, o governo Britto repassou cerca de 1.600 quilômetros de rodovias federais e estaduais para um grupo de concessionárias explorá-las por um período de 15 anos. Todas as estradas foram entregues recuperadas às empresas e estas tinham a obrigação apenas de mantê-las, não assumindo nenhuma responsabilidade por duplicações que, inclusive, são uma das demandas dos motoristas, já que essas vias estão saturadas.
Na semana passada fomos surpreendidos com o ato da governadora Yeda Crusius que devolveu as rodovias ao governo federal, juntamente com as concessões. E mais surpresos ainda ficamos quando as concessionárias apresentaram a conta reivindicando a astronômica soma de R$ 1,7 bilhão, tendo por argumento o desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Já pagamos um dos pedágios mais caros do Brasil por estradas que, mesmo pedagiadas, deixam muito a desejar em termos de qualidade. Com R$ 1,7 bilhão é possível construir pelo menos 1.700 quilômetros de asfalto, ao custo (exagerado) de R$ 1 milhão por quilômetro. Cabe ressaltar que Paraná e Mato Grosso conseguem construir um quilômetro de asfalto por R$ 300 mil.
A loucura é que, com o valor cobrado pelas concessionárias neste período de 10 anos, é possível construir uma nova malha asfáltica, maior inclusive do que a que foi concedida. Vamos colocar da seguinte forma: com R$ 1,7 bilhão dá para construir, ao lado do asfalto atual, mais duas pistas com acostamento e ainda sobra para mais 100 quilômetros.
E o valor pago pelos usuários? Quanto representou nesses 10 anos? Onde foi aplicado? Alguém tem que dar muitas explicações. Gostaria que algum mágico do capitalismo explicasse: como uma empresa pode operar por uma década tendo prejuízos milionários (como as empresas argumentam) e ainda pedir para continuar no negócio por mais 15 anos? Tem caroço nesse angu. Governos, empresas de pedágios e Agergs estão devendo esclarecimentos. E nós vamos cobrar e tentar impedir mais este assalto ao nosso Estado!
Heitor Schuch/Deputado estadual (PSB)
Gazeta do Sul.